Nascimento: 16/4/1948, Paraíba do Sul-RJ
Período: 1970 a 1974 e 1975 a 1977
Posição: Atacante
Títulos: Taça Guanabara (1976)
"O ARANHA"
“Catimbeiro, malandro, irreverente. Mas ele sabia como poucos os atalhos do gol. Embora jamais tenha jogado pela Seleção, foi um dos mais perigosos atacantes da década de 70. Além do Vasco, jogou no Olaria, Bangu, América, Bonsucesso, Botafogo, além de passar pelo futebol árabe e português.” (Grandes Perfis de Placar - Vasco).
O seu apelido vem das iniciais do seu nome, Domingos Elias...
Foi um dos primeiros atacantes que eu, ainda menino, vi se destacar com a camisa do Vasco. O Dé me chamava a atenção pelo gols e também pela farta cabeleira que usava em 1976... sem falar do seu jeito irreverente, bem-humorado, sempre contando histórias engraçadas. Figuraça!
O blog do Mais Memória o apresenta assim:
“Um dos atacantes mais perigosos do país na década de setenta. Rápido, habilidoso e muito técnico. A fama de malandro, de certa forma, não condiz com o grande atacante que representou em seu tempo.
As entrevistas polêmicas e as cavadas de pênaltis e faltas não são representativas do atacante que durante toda a década de setenta marcou uma época no futebol carioca. A figura do malandro se confundiu com a do grande atacante. No Vasco um falso ponta-esquerda – para atuar com DINAMITE -, porém um definidor astuto, rápido e decisivo.” (blog.maismemoria.net)
O jovem Dé chegou ao Vasco em 1970, após se destacar no Bangu. Em 1974 foi para Portugal defender o Sporting e, em pouco tempo, retornava para vestir a camisa cruzmaltina nos anos de 1975 e 1976.
O ex-goleiro vascaíno Valdir Appel, no seu livro “Na Boca do Gol”, dedica um capítulo ao Aranha. O perfil divertido do Dé fica evidente no ótimo texto do Valdir e o reproduzo na íntegra:
Dé, o Aranha (Na Boca do Gol, página 90 )
Dé no Bangu (final dos anos 60) |
O atacante Dé, do Bangu, foi a melhor contratação do Vasco da Gama logo após a conquista do título carioca de 1970. O franzino e rápido artilheiro trouxe para o clube, além do seu grande futebol, a sua irreverência, bom humor e alegria, acompanhados de histórias interessantes protagonizadas por ele no clube suburbano carioca, do bicheiro Castor de Andrade.
Talvez, a história do gelo tenha marcado mais do que as outras. Jogando contra o Flamengo, teve um lampejo de gênio e sorte ao arremessar uma pedrinha de gelo em direção à bola, que estava mais para Reyes, desviando a sua trajetória e enganando o zagueiro, que iria interceptá-la. O drible de gelo, como ficou conhecido, fez o atacante sair na cara do goleiro, a quem driblou antes de empurrar a gorduchinha para as redes.
Contra o Vasco, aproveitou uma confusão formada na área vascaína, durante a cobrança de um escanteio, pra jogar grama no rosto do goleiro Andrada, tentando tirar sua atenção. O que conseguiu foi uma imediata reação do goleiro, que partiu pra cima do atacante em fuga. Dé desceu os degraus do túnel do Maracanã, puxando as grades que isolam o acesso aos vestiários, enjaulando-se por dentro, evitando ser alcançado e apanhar do guapo argentino.
Dé - foto publicada no livro "Vasco - A Cruz do Bacalhau" |
Era um exímio cavador de pênaltis, e aterrorizava os árbitros, induzindo-os freqüentemente ao erro. Já no Vasco, jogando contra o seu ex-clube, em General Severiano, estádio do Botafogo (uma partida desinteressante, o estádio às moscas), protagonizou outro momento hilário e inesquecível. Perdíamos o jogo por 1 a 0 e jogávamos mal. Na segunda etapa, as expulsões de Moisés e René aumentaram ainda mais as nossas dificuldades, e o segundo e o terceiro gols surgiram naturalmente. Até o centroavante Silva já estava na zaga, tentando ajudar a evitar um escore acachapante.
A revolta contra a arbitragem era grande, e Dé não se conteve com a marcação de outro gol que lhe pareceu irregular e partiu pra cima do árbitro, que imediatamente lhe mostrou o cartão vermelho.
“Toma pra você!”, disse o juiz Nivaldo dos Santos, erguendo o cartão vermelho para o atacante. Dé arrancou o cartão das mãos do árbitro e tentou rasgá-lo, mas não conseguiu o intento porque o papelão vermelho estava plastificado.
Dé correu em direção aos vestiários, com o juiz no seu encalço, tentando reaver o cartão.
“Você me deu o cartão, agora é meu!”, gritava Dé.
A partida já estava 4 a 0 pro Bangu, quando o treinador Paulinho de Almeida ordenou aos seus jogadores que ficassem tocando bola na intermediária, fazendo o tempo passar. Evitou assim um vexame maior ao debilitado Vasco, e principalmente pra mim, que já estava com dores nas costas de tanto me agachar para buscar a bola no fundo das redes.
Fairplay é isso! " (Valdir Appel – livro “Na Boca do Gol”)
Vasco no início dos anos 70 Em pé: Joel, Renê, Benetti, Élcio, Eberval e Fidélis; Agachados: Pai Santana, Luiz Carlos, Silva, Ademir, Dé e Gilson Nunes |
A Revista Placar reproduziu na edição especial “Grandes Perfis de Placar - Vasco” (ed. 1240, setembro de 2002) uma matéria com o Dé que originalmente foi publicada em 1974, quando o atacante retornou da Europa. Abaixo, alguns trechos mostrando a preocupação dos adversários com o futebol do Dé:
" - Malandro. Joga pelo dois lados, tem explosão e é um dos nossos atacantes mais difíceis de se marcar. Contra zagueiro otário, ele rala e rola.
A opinião do zagueiro Jaime está mais de acordo com o futebol jogado por Dé na sua volta ao Vasco. E a história das grandes vitórias do Vasco prova isso. Na virada contra o Flamengo, Dé explorava o lado direito; contra o América, o lado esquerdo, aproveitando os avanços de Orlando; contra o Fluminense, o miolo, deitando e rolando na lentidão de Abel. E tudo isso, conscientemente.
- É o que eu digo: aprendi muito na Europa. Hoje, jogador com posição fixa é jogador morto, tem que ser quitandeiro. Futebol para profissional desse tipo, não dá pé. Quem tem posição definida é anulado tranqüilamente. Eu sou esperto.
Agora, sim, é esperto. Antes ele também se dizia esperto – e com suas espertezas só conseguia irritar os companheiros.
Valente, ele sempre foi. Tem autoridade para dizer que prefere jogar contra zagueiros violentos, que os clássicos – “existem poucos no Brasil” – são mais difíceis de serem vencidos. No drible, que não é o seu forte, ou na corrida.
- Eu domino a bola e, quando dá, parto para cima das feras. Eles vêm bufando e sei que vão soltar os bichos em cima de mim. Então me preparo. Quando chego junto, dou um toquezinho para a frente e pulo. Saio do pau. Se deixar a perna, Deus me livre. E só Deus me livra de uma fratura. É por isso que livro a perna. Toco e vou embora. Eles ficam discutindo política lá atrás, eu já estou na cara do goleiro. E não é máscara: Dezinho partindo sozinho para o gol, a galera pode levantar e comemorar. A criança mansinha no berço.
- O Dé botou na frente, um abraço. Ninguém consegue chegar perto dele. E dentro da área ninguém pode entrar duro. Ele cai gritando tanto que o juiz se apavora e marca pênalti.
O lateral Júnior, do Flamengo, confirma as palavras de Dé, o que também faz Orlando do América.
- Ele se deu bem duas vezes contra a gente, nos segundo e terceiro turnos. Ao todo, fez quatro gols, se não me engano. Ele está em grande forma, pela esquerda, pela direita ou pelo meio. Até lançamento faz. Fez para o Jair Pereira, quando Marco Antônio cometeu pênalti. Depois foi lá ele mesmo, passou por Toninho e Abel, esperou a saída de Félix e marcou o gol da vitória sobre o Fluminense. Lembro de um drible que ele me deu, que não costumo levar. Rolou a bola com o pé direito, eu fui. Aí, ela já estava no seu pé esquerdo, dentro da área. Eu, batido, fiquei olhando. Nem pênalti dava para fazer. Acho que todo time deve escalar um cara só para perturbar o Dé. O cara não joga, mas o Dé não vai preocupar ninguém." (Grandes Perfis de Placar - Vasco)
No livro “Vasco, A Cruz do Bacalhau”, o Aldir Blanc dedica uma página ao Dé (Dois toques com Dé, o Aranha) e relata mais um dos casos engraçados do Aranha:
O técnico Otto Glória fazia uma preleção usando prancheta para definir táticas e estratégias . O sempre irreverente Dé, apelidado de “o Aranha”, entornou um copo-d’água em cima dos esquemas. Espantado, Otto Glória chamou a atenção do jogador: “Que isso, Dé? Tá maluco?” E o Dé: “Não, mas, se chover, o que a gente faz?” ("A cruz do Bacalhau")
Esse é o Dé!
VASCO, CAMPEÃO DA TAÇA GUANABARA DE 1976
Em 15 jogos na Taça GB/76, foram 11 vitórias e 3 empates. Dé e Roberto foram os artilheiros vascaínos com 10 gols cada. |
Recebendo as faixas! Abel, Gaúcho, Renê, Luís Augusto, Marco Antônio e Mazzaropi; Fumanchu, Zé Mário, Dé, Jair Pereira e Galdino. |
REGISTROS
- Dé nunca foi convocado para a Seleção principal, mas chegou a ser convocado para a Seleção Olímpica em 1968 para um jogo (Brasil 3x1 Ferroviário-PR) e fez um gol. (livro: Seleção Brasileira 1914 – 2006)
- Alguns sites e blogs, equivocadamente, colocam entre as conquistas do Dé no Vasco o Campeonato Carioca de 1970 e o Campeonato Brasileiro de 1974. Na verdade, Dé chegou ao Vasco em 70 após a conquista do Carioca. E, em 1974, o Aranha foi para Portugal, defender o Sporting (e ser campeão).
- Após passar por muitos clubes, Dé encerrou a carreira em 1985 sendo campeão capixaba pelo Rio Branco (ES). Passou a exercer a função de treinador e já comandou muitos clubes.
- Após passar por muitos clubes, Dé encerrou a carreira em 1985 sendo campeão capixaba pelo Rio Branco (ES). Passou a exercer a função de treinador e já comandou muitos clubes.
Poster da Revista Placar no anos 70 |
Era um craque também na "malandragem":
“Eu aprontava com inteligência, por isso fui poucas vezes expulso de campo”
“Eu aprontava com inteligência, por isso fui poucas vezes expulso de campo”
(Placar n.1065 nov/1991 – “OS DEUSES DA RAÇA”)
Fontes:
- Revista Placar, “Grandes Perfis de Placar - Vasco”, edição n.1240, setembro de 2002
- Revista Placar “OS DEUSES DA RAÇA”, edição n.1065, novembro de 1991
- Livro “Na Boca do Gol”, Valdir Appel
- blog “MAIS MEMÓRIA” (blog.maismemoria.net)
- Livro “ Vasco, A Cruz do Bacalhau”, Aldir Blanc e José Reinaldo Marques
- Livro “Seleção Brasileira 1914 – 2006”, Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf
Ricardo
ResponderExcluirEss bela postagem já li, sobre o grande Dé e deixei comentário no blog do meu amigo Valdir ex goleiro do Vasco.
É sensacional
Parabéns para você também.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história. em Blumenau
Sim, Adalberto. O nosso amigo Valdir Appel me pediu para reproduzir esse post sobre Dé, o Aranha no seu ótimo blog (Na Boca do Gol). Aliás, foi inspirado no capítulo que Valdir escreveu no seu livro, que resolvi fazer esse post em homenagem ao Dé (o artilheiro de quem trago boas lembranças da minha infância... figuraça o Dé!)
ResponderExcluirAbraço e obrigado pela visita!